7 de novembro de 2015

Índios Cariris e Cultura Caririense


Índios Cariris (r) Centro. Antiga Poente. Origem indígena.- kiriri-Cariri, que significa taciturno, silencioso, calado. Os índios cariris, já na época da Penetração dos sertões (segunda metade do século XVII) habitavam a região semi-árida da Paraíba, conhecida hoje como Cariris Velhos e em Campina Grande, embora essa área fosse domínio dos tairairus. Àqueles, mais que aos Arius, deve Campina Grande a sua fundação



In: http://www2.uol.com.br/guiacampina/ruai.htm


Cariri é a designação da principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste, e vários grupos locais ou etnias foram ou são referidos como pertencentes ou relacionados a ela. Para uma idéia da distribuição geográfica da família e desses grupos ou etnias, consulte o Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju, editado pelo IBGE e já em uma segunda ou terceira edição, e que certamente pode ser encontrado em boas bibliotecas de São Paulo. No Mapa há também uma lista bibliográfica com várias referências de fontes históricas.
Apesar de comprovadamente presente em todo o semiarido nordestino, apenas quatro das línguas cariri chegaram a ser minimamente descritas, todas elas da região ao sul do São Francisco: o Dzubukuá, falado por grupos no arco do submédio São francisco (entre o que é hoje Petrolina e Paulo Afonso); o Kipea, falado por índios que se tornaram conhecidos como Quiriris (ou Kiriri) principalmente na bacia do Itapicuru, Bahia; e o Camuru (ou Cariri) e o Sapuiá, de duas aldeias próximas na região de Pedra Branca (bacia do Paraguaçu), também na Bahia.
In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cariris

INTERIORIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA E A "GUERRA DOS BÁRBAROS"

(Por Eudes Dantas; Iracema Pereira; Jailma Oliveira N. F. de Azevedo; Margarida Maria da Silva; Maria das Dores Medeiros; Maria do Carmo Gomes; Sandra Cunha – Alunos do período 2001.2)

Durante o período colonial, as Capitanias Brasileiras tinham como base econômica a cultura da cana-de-açúcar. No Rio Grande do Norte essa base econômica se solidificou com o cultivo da cana - de- açúcar no litoral e o desenvolvimento da pecuária no Sertão, onde as terras eram impróprias para a cultura da cana. Essa atividade que de início era feita em pequena escala, passou a se expandir Sertão adentro quando ocorreu a ocupação Holandesa em Pernambuco. Tal expansão se deveu especialmente, ao fato de Pernambuco necessitar do gado tanto como força motriz para seus engenhos, como para o abastecimento alimentício, uma vez que o principal produto cultivado na referida capitania era o açúcar. Além do mais, o gado se constituía numa fonte econômica abundante, já que dele era aproveitado quase tudo, inclusive o próprio couro que era exportado para outros países e que levou ao surgimento de oficinas de beneficiamento (curtumes) em Recife.
Todavia, com a expulsão dos Holandeses do Brasil muito gado ficou sem dono, vagando e espalhando-se pelo Sertão, fazendo com que logo colonos interessados em apascenta-los, ocupassem suas ribeiras. E com a colonização Portuguesa e o povoamento se acentuando cada vez mais, através da formação das cidades e vilas, ficava bastante complicado alimentar a população, visto que as terras que não estavam sendo utilizadas para o plantio de cana-de-açúcar, estavam ocupadas com a criação do gado. Para solucionar esta questão, as autoridades provinciais resolveram limitar a criação do gado, proibindo-a até dez léguas do mar e também as margens dos rios, para que estas terras pudessem ser preservadas tanto para o cultivo da cana, quanto também, para outros produtos agrícolas. Essa legislação resultou na ocupação das terras até então inexploradas, já que a atividade pecuária exigia uma maior quantidade das mesmas.
Contudo, a posse da terra era controlada pelo Governador Geral que só concedia a posse mediante o "povoamento" dentro de um ano, sendo esta posse cabível quando entregue aos colonos portugueses ou vassalos do rei de Portugal. Assim, criou-se no pensamento colonial a idéia de um interior "vazio", apesar de ser habitado pelos nativos da terra que não foram tidos como seres humanos. Todavia, de início foi muito comum à convivência pacífica entre nativos e portugueses, devido principalmente ao pagamento de "resgates", por parte dos colonos. Vê-se assim, que existia um medo em demasia por parte do gentio devido ao avanço do colonizador em suas terras e vice-versa. Esses resgates eram uma espécie de "imposto da paz", que visava uma certa cordialidade entre o invasor e o invadido.
A partir de então, a ocupação portuguesa no Sertão do Rio Grande do Norte se intensificou devido ao avanço das frentes pastoris, que objetivava expandir a pecuária Sertão adentro, chegando o momento que devido a esse avanço pastoril, a presença indígena se torna um empecilho à colonização, levando as autoridades coloniais a utilizarem como estratégias de desocupação destas terras, a eliminação dos nativos que resistissem aos interesses colonizadores, especialmente os homens, já que as mulheres e crianças não eram mortas, pois poderiam servir aos interesses dos colonizadores.
Nesse período, nas Capitanias do Norte, habitavam os índios denominados de Tupis, que habitavam o litoral e Tapuias que habitavam o interior. Estes eram constituídos de vários grupos que possuíam especificidades entre si. Os Tarairiú era um desses grupos Tapuias habitantes do Sertão que se distinguia dos Kariri e dos Gê. Graças ao estudo de alguns cronistas, podemos conhecer como eram divididas as famílias Tapuias e onde habitavam essas várias nações. Os Tarairiú eram subdivididos em dois grupos e se diferiam entre outros aspectos, lingüístico – culturalmente dos Kariri e tinham como chefes Janduí e Cerro-Corá. Os primeiros habitavam áreas sub-litorâneas, como as margens dos rios da região Seridó e o segundo habitava nas proximidades de rios permanentes, como o Rio S. Francisco. Um dos aspectos da cultura indígena que provam as suas diversidades culturais, é a prática do endocanibalismo, ou seja, quando morria um membro da tribo, este era comido pela própria tribo, e também quando nascia um bebê morto, este era comido pela mãe, o que não acontecia com a tribo Kariri. Os Tarairiú que habitavam o Sertão da Capitania do Rio Grande dividiam-se em Jandui, Ariú, Pega, Canindé, Genipapo, Paiacú, Panati, Caratiú e Corene, os quais tiveram contato com os colonos portugueses quando a pecuária adentrou os Sertões. Esses Tapuias tinham os mesmos costumes de alguns índios do Brasil e gostavam de depilar e pintar todo o rosto e o corpo e costumavam cobrir os genitais, sendo que as mulheres usavam uma espécie de "avental" feito de folhas e os homens um cendal também de origem vegetal, além de enfeitarem o corpo com penas e outros adornos naturais.
O clima do sertão impunha aos Tarairiú uma vida seminômade, já que de acordo com as estações do ano, estes mudavam seu acampamento para outros lugares que garantissem seu sustento, não tendo aldeias fixas. Assim relatos apontam que nos meses de Novembro, Dezembro e Janeiro, os Tarairiú se colocavam perto do mar, já que essa região era mais rica. Dormiam em redes ou no chão. As migrações para outras áreas eram indicadas pelos feiticeiros e anunciadas pelos reis que determinavam o local do próximo acampamento. As mulheres eram encarregadas de transportar bagagens e procurar paus e folhagens para confecção de um novo abrigo e os homens eram encarregados da caça, da pesca e da procura de mel, já que sua alimentação básica era esta, juntamente com frutos, raízes e ervas. Após as chuvas estes se deslocavam para as várzeas dos rios, onde plantavam mandioca, milho e legumes.
Os Tarairiú eram guerreiros temidos até por outros indígenas devido sua força, velocidade e destreza na guerra. Além das armas européias, eles adotaram o uso de cavalos, o que causava espanto aos Portugueses. Sendo uma sociedade guerreira, a posição dos "principais", ou seja, de um grande guerreiro, era de grande prestígio, havendo cerimônias de coroação com muitos festejos. Os acordos de paz também eram feitos com a presença do guerreiro, sendo que este juntamente com os seus, se tornavam a partir do "acordo", vassalos do Rei de Portugal.
Percebe-se até então, que estão explícitos os interesses coloniais para "livrar" o território da presença indígena, seja pela morte, pela fuga ou pela rendição forçada ou ainda com outras estratégias de intimação para obter escravos disponíveis a colonização. E na tentativa de expulsar os índios e de se apropriar das suas terras para desenvolver a pecuária, iniciava-se a ampliação das fronteiras econômicas em direção aos Sertões das Capitanias Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Contudo, esse empenho colonial gerou muitos conflitos, onde até os padres seculares temiam vir até o Rio Grande, por medo dos "bárbaros" tapuias. Durante as décadas de 1670 e 80, com a distribuição de sesmarias nas ribeiras dos rios Acauã, Seridó, Açu, Apodi e Mossoró, e implantação da pecuária na capitania do Rio Grande, foi criada uma situação que de certa forma favoreceu uma convivência entre os Tapuias e vaqueiros, tanto que os conflitos eram resolvidos através de "acordos", sendo que em algumas situações, os conflitos eram resolvidos através da "força", ou seja, pela escravização indígena para a mão-de-obra. Esses conflitos foram se alastrando e fazendo com que a situação se agravasse em ambas as partes, pois a interiorização cada vez mais forte da pecuária vinda de um lado, do litoral de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande e do outro (Maranhão, Piauí e Ceará), colocava os indígenas numa situação de imobilidade diante das frentes pastoris, levando-os a se constituir numa barreira à colonização, que foi denominada de "muro do demônio". Por conseguinte, os índios "espremidos" num limite mínimo de terras, pressionadas e sem saída reagiram violentamente, levando a capitania a uma deflagração que ficou conhecida como a "Guerra dos Bárbaros".
No ano de 1687, a reação Tarairiu à colonização, intensificou-se tanto que foi preciso pedir intermédio de um vereador da câmara enviado ao governador geral na Bahia, pois o levante já havia causado grande catástrofe. O governador geral Mathias da Cunha, vendo a possibilidade da retomada das terras pelos Tarairiú, ordenou que o coronel Antônio de Albuquerque da câmara assumisse a liderança de interesse dos colonizadores.
Os Portugueses construíam várias casas fortes onde se instalavam, só que por serem feitas apressadamente, estas eram inseguras o que permitia constantes ataques dos nativos. Logo os colonizadores tentaram repreender os "indígenas", enviando tropas paulistas lideradas por Domingos Jorge Velho, para guerrear contra eles. Os objetivos dessa luta seriam degolar os guerreiros e escravizar suas mulheres e crianças, já que estas úteis, podendo ser inclusive vendidas para pagar os custos da guerra. Além disso, as mulheres cativas, iriam trabalhar na agricultura, enquanto as crianças seriam educadas nos moldes católicos e de acordo com os interesses dos dominadores. Nesse sentido, aos poucos eles iriam se desprendendo de suas raízes culturais.
Percebe-se assim, que a guerra afetava profundamente o cotidiano dos indígenas, já que estas aconteciam em seus territórios forçando-os a migrar para o Litoral em busca da sobrevivência, o que antes faziam voluntariamente só nos períodos de seca para dela escapar. Essa nova situação levava os indígenas, como os Panati, a saquearem fazendas roubando e matando gado na tentativa desesperada de sobreviver à colonização portuguesa, fato que suscitou reações dos dominantes que logo buscaram conte-los, como comprovam as cartas enviadas pelos oficiais da Câmara de Natal ao capital-mor, solicitando desse que fizesse a distribuição desses índios já reduzidos na Aldeia do Guajiru, entre a população da Capitania para que estes passassem a reparar os danos que haviam causado aos colonos e moradores. Como se não bastasse a expropriação e a dizimação já realizada com esses índios pelos portugueses, estes ainda tinham que pagar uma conta que não lhes era sua e sim, devida pelos brancos aos mesmos. Todavia, como a lógica da colonização era além da liberação das terras para a pecuária, obter mão-de-obra necessária para o trabalho, se fazia então fundamental, desenvolver a escravidão. Daí o porque de retirar os indígenas da Aldeia com o pretexto de introduzi-los na fé católica, batizando-os e sustentando suas despesas em troca de seus serviços, pois caso permanecessem na aldeia não haveria como força-los ao trabalho, ou seja, escraviza-los. Por conseguinte, a guerra dos bárbaros só reforçou essa lógica ao atender os objetivos da colonização. Foi assim, que tanto Domingos Jorge Velho que dizimou muitos indígenas na serra do Acauã, hoje a conhecida Serra da Rajada, bem como, a tropa do Pernambuco comandada pelo capitão Afonso de Albertin, que dizimou a tribo dos Janduí na Ribeira do Açu, foram parabenizados pelos seus feitos pelo Governador geral e pelo novo governador de Pernambuco, já que seus prisioneiros foram levados para Recife como presentes para este último, sendo comercializados como escravos em praça pública para bom proveito de seus "carrascos" e ou vencedores.
Com o continuar da repressão aos Tapuias e as vitórias obtidas, os oficiais da Câmara de Natal enviaram um Memorial ao Rei, no qual alegando a este as perdas de colonos e despesas realizadas para com o desenvolvimento da "guerra dos bárbaros", solicitava o reparo das mesmas com o pagamento do gado perdido e a distribuição das terras "liberadas" entre as pessoas da Capitania, além da criação de um presídio no Arraial do Açu e de um alojamento com cem índios domesticados, para a proteção dos moradores e para que estes "ajudassem" no transporte do gado para Pernambuco.
É notório o interesse dos luso-brasileiros para que as perdas sofridas com a guerra, fossem logo reparadas, as terras expropriadas fossem distribuídas e ocupadas, evitando possíveis iniciativas dos Tarairiú de retoma-las. Todavia, estes bravios guerreiros, apesar das degolas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram ao longo dessa história que lhes fora imposta, resistiram por cerca de mais trinta anos sempre lutando como podiam pela posse de suas terras e na tentativa de vencer as injustas estratégias da dominação colonial. Assim, a colonização portuguesa no Rio Grande e no Brasil, se consolidou sob os moldes de uma visão cultural preconceituosa e injusta, onde o nativo passou de gentio a infiel, por não se submeter ou tentar resistir às imposições européias, fato esse, que acarretou o extermínio quase que completo dos nossos nativos.
ANEXOS:
BIBLIOGRAFIA:
LOPES, Maria de Fátima.Índios, Colonos e Missionários na Colonização do Rio Grande do Norte. Natal, 1999. Dissertação (Mestrado em História) Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Cap. 4. p. 102-129.
MONTEIRO, Denise Mattos.Introdução à História do Rio Grande do Norte – Natal:Edufrn, 2000. cap.1-2. p. 19-95

In: http://www.seol.com.br/rnnaweb/historia/colonia/interiorizacao.htm

CULTURA E SOCIEDADE NO CARIRI

UMA BIBLIOGRAFIA ANOTADA

Peter Schröder
Fortaleza, fevereiro de 2000


I - Introdução

O Cariri cearense costuma ser visto como um tipo de oásis no Sertão, tanto do ponto de vista ecológico quanto climático e hidrográfico. Mas também por critérios culturais ele geralmente é classificado como uma região especial, diferente do ambiente cultural sertanejo. Até há regionalistas apaixonados que vêem nele o maior reduto da cultura popular nordestina do interior ou do Nordeste em geral, sem achar isto exagerado. Fala-se muito das peculiaridades culturais da região, enquanto se constrói, ao mesmo tempo, uma imagem da sociedade caririense que pouco difere do quadro de outras partes do Nordeste, como se as estruturas sociais do meio urbano e, em particular, do meio rural fossem as mesmas em todas as regiões: uma sociedade "comum" do interior nordestino, mas com patrimônio cultural e histórico especial, particularmente no folclore. Mas o Cariri é assim mesmo?
Quem quer se informar sobre sociedade e cultura no Cariri, seja sobre o passado seja sobre a atualidade, seja de um ponto de vista geral seja com interesses específicos, encontra um bom número de textos publicados e não publicados. O número não é demasiado grande, de maneira que não se perca a visão geral. Os problemas, no entanto, são diferentes. Por um lado, não se tem, em geral, acesso fácil e rápido aos diversos textos, os quais ainda não estão concentrados de uma forma satisfatória em biblioteca nenhuma. Por outro lado, nem existia até agora uma publicação que permitia ao estudante, pesquisador ou amador interessado se informar de uma forma concisa e sistemática sobre os textos existentes.
Esta bibliografia é uma contribuição a reduzir o segundo problema. Ela representa uma reação a um desiderato enunciado muitas vezes por professores universitários e escolares, estudantes, pesquisadores e outras pessoas que conhecem o Cariri e seu patrimônio cultural e histórico. A utilidade de um trabalho deste tipo é evidente, como ele é um subsídio para pesquisar e conhecer melhor a atualidade e o passado da região.
A idéia de escrever esta bibliografia surgiu com uma pesquisa antropológica do autor sobre o manejo de recursos naturais por pequenos agricultores no Cariri cearense. Em 1996 e 1997 foi realizada uma pesquisa de campo no município de Nova Olinda e em zonas limítrofes de Crato e Santana do Cariri. Esta pesquisa de campo foi complementada por estudos em bibliotecas e arquivos de diversas cidades do Nordeste. Por estes trabalhos ficou evidente que faltou uma publicação orientadora que permitia informar, antes de mais nada, quais são os textos que podem ser consultados, porque com esta questão aparentemente simples começam os problemas. As principais bibliotecas com publicações sobre o Cariri, geralmente situadas no próprio Cariri, ainda precisam de reformas na organização dos acervos para facilitar as consultas. Assim, qualquer pesquisa bibliográfica até agora costumava ser demorada.
Quando se começa coletar o material para elaborar uma bibliografia regional como a presente, não se pode evitar definir a extensão e os limites da região escolhida. Em nosso caso, o problema é que nem a palavra Cariri nem a designação Cariri cearense são totalmente isentos de equívocos, porque entende-se, pelo nome Cariri, várias regiões de extensão diferente, as quais são:
1) O triângulo urbano de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha e os municípios vizinhos de Missão Velha e Jardim. Numa conceituação mais ampla do Cariri, esta região é chamada o Cariri Central.
2) O centro e a parte oriental do Sul Cearense com os municípios de Abaiara, Altaneira, Aurora, Barbalha, Barro, Brejo Santo, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Grangeiro, Jardim, Jati, Juazeiro do Norte, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Nova Olinda, Penaforte, Porteiras, Santana do Cariri e Várzea Alegre. Esta zona é igual ao Cariri definido pelo IBGE. No caso deste modelo, os municípios de Altaneira, Farias Brito, Nova Olinda e Santana do Cariri formam o Cariri Ocidental, os municípios de 1) o Cariri Central e os outros o Cariri Oriental.
3) Do ponto de vista do desenvolvimento regional, foram criadas várias regiões de planejamento chamadas Cariri. A versão menor é igual ao conceito do IBGE, enquanto a maior engloba todo o Sul Cearense (de Campos Sales, no oeste, a Mauriti, no leste).
4) Muitos regionalistas, nativistas e políticos locais vêem no Cariri não só todo o Sul Cearense, mas também alguns municípios ao norte dele, que fazem parte do Centro do Ceará e dos Sertões dos Inhamuns. Este conceito da região desempenha um papel importante, em primeiro lugar, nas discussões regionalistas sobre a formação de um Estado do Cariri. Atualmente, porém, apenas uma minoria da população caririense toma a sério os representantes dessa posição.
5) Idéias regionalistas também são responsáveis pela extensão do conceito da região para além dos limites estaduais. As intensas relações históricas, econômicas e culturais com Pernambuco deixam muitas pessoas falar de um Cariri Cearense e um Cariri Pernambucano, como se a Chapada do Araripe representasse o centro geográfico da região, a qual engloba os municípios ao redor da Chapada.
6) E, finalmente, há uma região no Sertão da Paraíba, também chamada de Cariri. Para evitar equívocos, antigamente esta região também era chamada de Cariris Velhos, enquanto a região do mesmo nome no Ceará recebeu o nome de Cariris Novos. Velhos e novos, neste caso, referem-se às sequências históricas na colonização do Sertão.
A grande maioria da população no sul do Ceará não se preocupa com as extensões do Cariri, mantendo uma idéia vaga dos limites da região, enquanto a maioria dos brasileiros pensa, no caso do Cariri, em primeiro lugar na cidade de Juazeiro do Norte e na figura do Padre Cícero. Do ponto de vista geográfico, no entanto, o conceito do IBGE predomina nas publicações científicas. E é este que serve de base para esta bibliografia.
Quais foram os critérios para escolher a literatura? Foram incluídos todos os textos que informam sobre as manifestações culturais no Cariri e os aspectos sociais da vida na região: livros, artigos, capítulos de coletâneas, teses e outras monografias universitárias, sites na internet e diversos estudos não publicados, mas que podem ser consultados publicamente. São textos científicos e não científicos, mas nenhum deles é ficção. O autor pode ser criticado por não ter incluído a produção literária regional que, aliás, não é tão pequena como às vezes se imagina. Há, pelo contrário, um número considerável de romancistas e poetas populares, eruditos e meio eruditos que apresentam suas visões da vida no Cariri. Um número reduzido de revistas regionais serve de meio de comunicação para poetas e escritores de contos pequenos. E há também um grande número de cordelistas, muitos deles organizados em associações e clubes, fazendo do Cariri um dos grandes centros produtores desse gênero, ou talvez o maior. Nas ciências sociais e históricas contemporâneas, a ficção é reconhecida como uma fonte de informações, mas não exclusivamente, pela maioria dos pesquisadores. Isto vale em particular para obras com temas culturais, sociais e históricos regionais, como na tradição regionalista do Nordeste. No caso do Cariri, porém, esta tradição é mal representada, sendo romances como "Caldeirão" (1982), de Cláudio Aguiar, a exceção. Na verdade, a ficção de produção caririense não costuma informar ou, pelo menos, não costuma informar bem sobre a região, o que não é nem seu objetivo nem sua tarefa. Por estes dois motivos, a ficção regional não foi levada em consideração para escrever esta bibliografia.
Foram feitos, no total, 244 registros, incluíndo 8 sites na internet. Um índice remissivo permite realizar pesquisas temáticas. Essa indexação produziu resultados interessantes, como revelou enfoques temáticos dos textos e, ao mesmo tempo, os temas pouco abordados até agora.
Os temas ou áreas temáticas sobre os quais os textos mais informam são: História (117 referências = 47,9% dos registros), Padre Cícero (79 = 32,4%), religião (74 = 30,3%), catolicismo popular (37 = 15,2%), política (32 = 13,1%) e economia (22 = 9,0%). Ao contrário da historiografia convencional, a história oral é representada por apenas 7 publicações. Com base nestes números podia-se concluir que o passado caririense é relativamante bem conhecido e que o Cariri é uma região muito religiosa, onde o catolicismo popular e a veneração do Padre Cícero dominam a vida social e as manifestações culturais. Quem conhece o Cariri, sabe que a vida cotidiana, no entanto, costuma ser bastante profana. Os resultados temáticos da pesquisa bibliográfica são, antes de mais nada, um indício de preferências temáticas dos autores, sendo que o fenômeno do Juazeiro representa alguma coisa tão especial e fascinante que serve de símbolo emblemático da região. Afinal, a maior cidade da região existia sem o Padre Cícero e o "milagre"?
Quanto à produção historiográfica, é necessário realçar que a quantidade infelizmente não é indício de qualidade. Há realmente uma boa série de estudos históricos sobre a região, começando com as iniciativas de alguns historiadores amadores preocupados com salvar a memória histórica. Entre eles destacam-se Ireneu Pinheiro, J. de Figueiredo Filho e o Padre Antônio Gomes Araújo. Além de obras históricas, os primeiros dois também escreveram estudos folclóricos importantes. A importância destes e de outros historiadores "clássicos" do Cariri não pode ser subestimada, como eles desenvolveram iniciativas próprias numa época quando a historiografia regional ainda não estava institucionalizada no âmbito de uma universidade regional. Deste ponto de vista, também merece ser destacado o empenho de jornalistas e diversos amadores interessados em tentar salvar a memória histórica regional, apesar das deficiências evidentes de muitos de seus trabalhos. O amadorismo apaixonado destas pessoas é importante em face da indiferença da maioria da população caririense, em particular dos jovens, com relação ao patrimônio cultural e histórico.
A historiografia convencional predominante no Cariri, no entanto, é muito conservadora e não satisfaz. A história da região parece ser uma história política e administrativa oficial, enquanto as histórias econômica, social e cultural são pouco ou mal estudadas, como se elas quase não existissem. Pode-se ler pouca coisa sobre o que aconteceu com os donos originários da região, os índios, sobre a formação social da população regional ou sobre atividades econômicas tradicionais fora da produção canavieira e açucareira. Pelo menos, quanto aos índios, sabe-se um pouco mais do que sobre a população de origem africana, como se nunca tivesse havido qualquer escravidão africana no Cariri e como se não existissem afro-brasileiros na região. Onde está o outro Cariri de que se sabe que ele existia e ainda existe?
A historiografia caririense merece ser tachada, com poucas exceção, de tediosa, porque ela não é viva, parece desconhecer tramas narrativos. Não é raro que ela só consta de listas de nomes com alguns comentários. Que imagem do passado se transmite aos leitores com isso? Nenhuma. Muitas vezes, a história apresentada é apenas a história de famílias de grandes proprietários, sendo as intenções dos autores, em primeiro lugar, ou elogiar a própria família ou adular a(s) família(s) de amigos. Na Alemanha, houve um estilo historiográfico conservador que começou a ser muito criticado na época pós-guerra e que é chamado de "homens fazem a história". Um representante típico é Golo Mann, da famosa família Mann. No caso do Ceará, uma crítica parecida devia ser feita contra um estilo que podia ser chamado de "famílias [ricas] fazem a história". A história do Cariri, por exemplo, é mais do que a história da família Bezerra de Menezes, para só citar um dos nomes preferidos da historiografia convencional caririense. Vale a pena fazer a famosa pergunta aventada por Berthold Brecht, aplicada à região: quem construiu o Cariri? O latifundista fulano e sua família ou a população? Uma história viva do Cariri ainda está para vir e por enquanto monografias como a de Ralph Della Cava sobre o Juazeiro do Padre Cícero e outras, como as de Maria Auxiliadora Lemenhe (1996) ou José Nilton de Figueiredo (1998), destacam-se por suas qualidades indiscutíveis em comparação com um grande número de trabalhos medíocres ou ainda piores. Livros como História do Ceará: dos índios à geração Cambeba, de Aírton de Farias (Fortaleza: Tropical, 1997), podiam servir de modelos para um história viva e atualizada do Cariri.
Também é interessante conhecer os temas pouco escolhidos pelos estudiosos. Temas ou áreas temáticas pouco representadas na bibliografia são (os números entre parênteses referem-se à quantidade de referências): camponeses (6), parceria/ parceiros (1), trabalhadores rurais (2), distribuição das terras (4), coronelismo (5), cooperativismo (2), sindicatos (2), organizações não-governamentais (ONG's) (2), conflitos sociais (1), mudança social (4), estratégias de sobrevivência (1), migração (1), gênero (gender) (2), escravidão (1), negros (1), mudança cultural (3), saberes tradicionais (4), medicina popular (2), nutrição (1), dia-a-dia (5), memória (3), arquitetura (1), identidade regional (2), secas (2) e sustentabilidade (2).
Estes números indicam que muitos aspectos sociais e culturais do Cariri ainda não foram estudados de uma maneira satisfatória. Por exemplo, os trabalhos sobre o campesinato caririense são raros, embora a cultura rural domine não só o meio rural, mas também partes do meio urbano. Há poucos estudos sobre a situação dos pequenos agricultores, parceiros e trabalhadores rurais, sobre sindicatos, cooperativas e ONG's no meio rural e urbano. É como se a vida rural fosse evitada pelos estudiosos e pesquisadores, por motivos sobre os quais só é possível fazer especulações.
Embora o Cariri fosse considerado, no passado, um verdadeiro reduto do coronelismo, poucos trabalhos foram escritos sobre essa formação sócio-política na região. Tensões e conflitos sociais e a questão importante da distribuição das terras também não fazem parte dos temas regionais prediletos, como se esses problemas mal existissem. Quando uma pessoa se quer informar sobre a cultura cotidiana no Cariri, sobre a nutrição da população, suas estratégias de sobreviver ou sobre a situação das mulheres, ela pode economizar muito tempo por não freqüentar bibliotecas, porque as informações dificilmente se encontra na literatura. Um tema predominante na vida social caririense, a emigração de partes da população economicamente ativa, é quase inexistente na literatura.
Os saberes tradicionais da população, como, por exemplo, os conhecimentos relacionados à medicina popular, foram pouco estudados até agora, embora eles ofereçam um potencial importante para o desenvolvimento regional sustentável. Isso não causa muita surpresa, porque esses saberes ainda costumam ser considerados, por muitas pessoas, como ignorância e superstição e condenados a desaparecer. Neste caso, preconceitos dificultam e impedem o trabalho científico e de desenvolvimento. Às vezes, pesquisadores de outras regiões do país ou até estrangeiros têm maior interesse pelo tema do que os regionais.
Os problemas atuais do Cariri não estão bem representados na literatura e, em particular, na produção científica regional, que é uma das diversas atribuições da URCA. Neste caso, também se pode fazer muitas especulações sobre as diversas causas. Uma delas, no entanto, é bastante conhecida tanto pelo autor quanto por vários colegas da URCA: a maioria dos alunos e também uma parte do professorado não gosta de fazer muito trabalho empírico, como pesquisa de campo, embora muitos temas estão praticamente "em frente da própria casa", quer dizer, não é necessário realizar expedições científicas complicadas para pesquisar no ambiente social e cultural da região. Com esta situação, há muito trabalho a fazer, o que devia ser considerado primeiramente como visão interessante e, por isso, positiva.
As duas únicas cidades bem representadas na literatura avaliada são Juazeiro do Norte e Crato, com 54 e 26 referências respetivamente. Quanto às outras cidades, na maioria dos casos há apenas uma ou duas publicações com material estatístico básico e algum livro popular sobre a história do município, escrito por um estudioso amador. Sobre várias cidades não há publicação nenhuma. Com as publicações futuras do autor, pode-se esperar uma melhor representação de Nova Olinda.
A língua dos textos costuma ser o português. Foram descobertas apenas 7 publicações em inglês, de autores americanos, e uma em alemão, do autor.
Quanto ao caráter científico dos textos, 16 representam trabalhos claramente antropológicos e 11 sociológicos, sendo que os estudos em Ciências Sociais correspondem a 11% dos textos.
Quanto aos lugares, onde os trabalhos foram publicados, a bibliografia também revela dados interessantes: 56 (= 22,9%) foram publicados no Crato e 21 (= 8,6%) em Juazeiro do Norte, sendo o Cariri representado, neste cálculo, por 31,5% das publicações. 78 (= 32,0%) das publicações foram lançadas em Fortaleza, 74 (= 30,3%) em outras cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília ou Recife, e apenas 8 (= 3,3%) em outros países. Assim, pode-se dizer que a produção de textos sobre cultura e sociedade no Cariri cearense ficou por 67,6% no Ceará e que ela tem acontecido, com poucas exceções, no Brasil.
Quem utiliza esta bibliografia, talvez precise saber também, onde é possível encontrar os textos. Não foi possível verificar em todos os casos todos os lugares, porque seria um trabalho demorado demais. Por isso, seguem apenas algumas indicações úteis para consultas e pesquisas futuras. No caso de textos que só podem ser consultados com muita dificuldade ou que não foram publicados, o procedimento é o seguinte: ou são indicados os lugares, onde pelo menos um exemplar está arquivado, ou um endereço eletrônico que facilita a solicitação do texto. Quanto às teses e outras monografias universitárias, os melhores lugares para as consultas são as bibliotecas universitárias respetivas.
As revistas caririenses de maior interesse para os estudiosos são A Província, do Craturismo, do Crato, Itaytera, do Instituto Cultural do Cariri, tamBoletim do Instituto de Cultura do Vale Caririense, do Instituto de Cultura do Vale Caririense, de Juazeiro do Norte. Entre as revistas científicas, as maiores chances de descobrir um artigo sobre o Cariri há na Revista de Ciências Sociais, da UFC.
bém do Crato, e o

In: http://orbita.starmedia.com/~i.n.d.i.o.s/bibling/bicariri.htm

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